25 de março de 2020

Um dia de cada vez

Estou em casa em teletrabalho. Para me proteger e proteger os outros.

Preferi ficar em casa dos meus pais. Preocupo-me e longe não estaria bem.

Aqui em casa estamos a seguir as recomendações da OMS e da Direcção Geral de Saúde.

Cada dia tornou-se stressante:

1) A Comunicação Social foi alarmista e ainda bem (nunca pensei dizer isto). Foram de tal forma que conseguiram que a maioria das pessoas compreendesse a gravidade da situação. Mas compreender a gravidade de algo causa ansiedade, angústia. Não evito ver notícias, mas filtro o que vejo e apenas para saber o que se passa no mundo. A cada dia preparo os meus para a subida da mortalidade e contagiados. Preparo-os para as más notícias e lembro sempre que a subida é natural, as pessoas não sabiam que estavam doentes. Mas espera-se que em Abril os números comecem a descer. Este trabalho é feito para que a ansiedade e o medo diminuam.

2) Estar 24h numa casa com crianças é testar os limites. É um desafio. Sou uma pessoa paciente, mas já comecei a utilizar as reservas. Os miúdos não param. Querem estar sempre ocupados. Embirram uns com os outros. Querem o que o outro tem. Tento ter uma abordagem didactica, mas por vezes perco o controlo. Eles sossegam uma meia hora. O tempo quase necessário para os adultos restabelecerem as reservas de paciência, de compreensão. Mas dura pouco tempo.

3) Os adultos, aqui em casa, têm características distintas e tudo o que é diferente ou muito igual provoca conflito. Estamos a conseguir relativamente bem lidar uns com os outros.

4) O meu pai é o que nos tem preocupado mais, é uma pessoa com a saúde frágil e tem desenvolvido demência. Portanto, todos os dias temos de lhe explicar porque não pode sair, porque tem de lavar as mãos constantemente. Porque tem de evitar o contacto com os outros. Porque não vêm as minhas irmãs cá a casa. O meu pai compreende e faz o que lhe pedimos, mas no dia seguinte temos de explicar novamente.

5) Estou em casa a trabalhar, passo os meus dias a responder a e-mails, a contactar os meus doentes e idosos, pois é o possível neste momento. Continuam a encher-me o coração com as palavras que só estas pessoas têm a capacidade de transmitir. Mas mesmo assim o tempo parece não passar. Então nas horas em que não estou a berrar com os meus sobrinhos, a fazer do quarto da minha irmã o meu call center ou a responder a e-mails, tenho estudado. Tenho tentado aprender mais e a preparar-me para as mudanças que me propus atingir este ano. Eu sei que provavelmente vou ter de adiar os prazos, mas não vou desistir.

VAI CORRER TUDO BEM!